sábado, 17 de fevereiro de 2007

Aulas Extras



Aulas para complementar o ensino de artes com um método que aborde os acontecimentos históricos e consequências destes relacionado às mudanças, divisões e movimentos artísticos.
As aulas podem ser viabilizadas como projetos e subdivididas ou acrescentadas de dinâmicas, enfim...Uma gama de possibilidades que torne interessante e instigante o debater sobre as constantes mudanças presenciadas pelos alunos.

CONTEÚDO
1960/1970 - Décadas de Luta
A arrancada final do modernismo brasileiro em fins dos anos 50, preparou o solo em que na década de 60, iriam florescer os primeiros artistas contemporâneos do país. O deslocar de eixos altamente poéticos e remanescentes da fase final do Modernismo brasileiro se destacam em Ligia Clark, Lígia Pape e Hélio Oiticica, buscando a integração entre o espaço da obra e o espaço real, propondo a aproximação de arte e vida.
Como principal exemplo, Lígia Clark, egressa do universo neoconcretista, se volta para a organicidade das obras, pontuando o campo construtivista. Em 1960, constrói Bichos, estruturas modeladas de planos geométricos de metal, articulados por dobradiças, que podem ser manipuladas pelo observador, numa interação do que é interno e externo nesses objetos que se transformam em seres palpáveis.
A partir dessa obra, entra em questionamento a obra enquanto objeto e coloca o observador como um novo autor, que interfere e dá um rumo diferente à produção.
A abstração persiste nas décadas de 60 e nas seguintes, engendrando tanto em torno de figuras geometrizadas, como de articulações cromáticas.O caminho da abstração busca soluções em constante mutação, dentro de saídas inventivas.
Analisando a fundo é a concepção do próprio nascer, viver e morrer, onde o processo depende sempre do autor, mas a finalização, não se sabe onde vai dar, mesmo tendo idéias iniciais e definição teórica das mesmas. O sensorial sempre vai desviar os caminhos. O sentir faz parte de todo o contexto humano e seu meio. O sentir prazer, horror, pesar, contemplação, força ou incapacidade, permeando pelos limites e ilimitadas formas de sensações.
Fato decisivo que faz parte da corrente moderna, foi a diferença entre a vertente da produção artística da primeira década do século XX e aquelas que floresceram nas décadas de 1960 e 1970, um novo interesse pela figura. A ditadura militar foi o grande divisor de águas nos anos de chumbo, onde dois pólos se digladiavam: de um lado, toda ordem de conservadores e aparato repressivo e do outro, intelectuais e artistas, setores progressistas do clero e da sociedade civil, estudantes e hippies.
O restabelecimento da democratização do país caminha paralelamente às mudanças de cultura e cotidianos contemporâneos, imprimindo um caráter diferenciado dessa passagem do século.
Como foi citada anteriormente, a busca dos sentidos diversos é um fator significante e, acima de tudo, a forma de abordagem feita pelo artista não se retém à apenas experimentações sensoriais e sim uma gama de questionamentos entre o que pode ser mudado tanto externamente e internamente em todos os sentidos que permeiam e assombram os brasileiros que testemunharam e viveram essas fases tão acesas e presentes no nosso atual contexto. A mudança de direção é um fator diário e constante, ocasionando sensações múltiplas que podem permanecer ou não. Abstrair acontecimentos para depois concretizá-los de forma a fazerem parte de nossas vidas.


A Geração 80

A explosão pictórica nos anos 80, paralelamente com as correntes internacionais do Neo-expressionismo alemão e da Transvanguarda italiana, vários artistas se sentem à vontade para assimilar as variantes e formular suas produções. Na exposição Como vai você, geração 80? em 1984, jovens de diversas regiões do Brasil, manifestam sues interesses pela pintura, dentre outras tendências artísticas em voga. Um número significativo desse grupo diversificado, onde a diferença de regiões influencia, buscam outras formas de expressão, veiculando manifestações, intervenções, performances, instalações, vídeo-arte, livros e processos multimídias, ganhando mais amplitude e inovação no olhar crítico.
O intercâmbio entre a produção de artistas de diferentes gerações estão presentes. Iberê Camargo, falecido em 1994, é um dos principais pilares para as novas gerações, que manifestam o debate em torno da pintura, o que motiva o artista, vindo de uma tradição pictórica da história da arte baseada no lado trágico da vida, onde seus gestos afirmam a dramaticidade ligada ao expressionismo.
Sua insinuação formal exalta as pinceladas saturadas e cheias de sombras, com luzes raras, induzindo a um fascinante horror de frente à instabilidade sem compromisso com as perspectivas. Artistas inspirados por sus tons soturnos, como Nuno Ramos, é um dos exemplos, aglomerando em suas telas elementos cada vez mais excessivos de matérias que o leva a deter a tridimensionalidade, prolongando e expandindo os possíveis materiais, questionando o porquê de suas incompatibilidades, já que não há regras estabelecidas diante uma série de fatos tão ligados à existência humana, ou seja, leis e imposições são verdadeiras assombrações para ordenar e manter o controle das pessoas, pois vivem em contradições, mas convivem, mesmo que em conflito.


Anos 2000 -Propostas Conexivas
Intervenções públicas efêmeras possibilitadas graças à crescente indefinição de fronteiras entre arte, ética, política, afeto, sexualidade, público e privado, manifestam-se através de intervenções externas, plásticas, pictóricas e performáticas, dando a possibilidade às pessoas que não transitam por espaços culturais pela falta de oportunidade, normalmente freqüentados por elites econômicas e intelectuais, fazendo com que partilhem das produções.
Essa descentralização das expressões artísticas, das galerias para as ruas, muda todo o panorama saindo do epicentro econômico dos grandes centros urbanos para as periferias. Aberto ao público, sem distinção de qualquer forma, grupos como o Imaginário Periférico, formado por bailarinos, artistas plásticos, escultores, músicos, poetas e etc... remodela a paisagem de pontos suburbanos e muito afastados de qualquer grande galeria de arte ou centro cultural, para a população participar e interagir com o evento.
Através da parceria entre poder público e iniciativa privada, a consulta às pessoas da região é feita, no sentido de encontrar a melhor solução possível para tornar o evento satisfatório a todos os seguimentos envolvidos.
Os atores sociais centram diversas demandas por direitos democráticos, incluindo identidade cultural e questões artísticas.
A forma de mudar o panorama de homogeneidade consumista luta contra o desestímulo da confiança das pessoas nelas mesmas como construtores ativos da sua própria realidade.
Um dos eventos foi realizado em São Gonçalo, na Praia das Pedrinhas, onde em Junho de 2005, o grupo promoveu uma coleta de detritos na área do mangue que separa o litoral da Rodovia Niterói-Manilha, próximo ao Piscinão de São Gonçalo, marcando o Dia Mundial do Meio Ambiente, com a participação de ambientalistas e estudantes.


PROCEDIMENTOS DE ENSINO
1. INCENTIVAÇÃO


Uma semana anterior à aula, os alunos levarão uma entrevista que será realizada com seus parentes sobre os três momentos artísticos abordados em aula: nas décadas de 60/70 e anos 80. Nesta entrevista conterá perguntas que tendem resgatar as impressões dos movimentos artísticos vividos pelos seus parentes nestas épocas.
Além de motivar e compartilhar com os alunos o conteúdo que será abordado em sala por meio de entrevista, realizará um encontro com as experiências passadas dos pais, avós, tios, tias, estabelecendo trocas importantes entre as duas gerações.






2. DESENVOLVIMENTO

1o. Momento
Realizaremos uma conversa informal com os alunos sobre os resultados das entrevistas realizadas com seus parentes.
A partir de alguma resposta ou algum assunto levantado durante a conversa, puxaremos um gancho para abordagem do conteúdo da aula: a arte como forma de expressão crítica. Começando pelas décadas de 60/70, atualizaremos a situação política do país e como os artistas reagiram a este momento.
Citaremos três artistas que viveram nesta época e como nortearam sua produção artística em resposta ao país. Lígia Clark e seus trabalhos inovadores, possibilitam ao espectador ter liberdade criativa ao interagir com a obra, manuseando-a, sendo este um dos temas de abordagem com os alunos: a liberdade.
Conversaremos de que forma estes artistas traduziram o sentimento de liberdade em suas obras, como nas produções da artista plástica, que estabelece um contato sensorial com o público através dos trabalhos. E na ditadura militar? Será que as pessoas tinham a mesma chance da livre expressão?
Em tempos que as pessoas não tinham possibilidade de mostrar ou colocar em prática seus descontentamentos com a ordem política e moralista do país, os meios que os artistas traduziram os seus gritos de crítica e oposição, foram através de suas obras exaltadas de efeitos diversos que causavam desconforto na elite nacional.
Henrique de Souza filho, o cartunista Henfil, será um exemplo de aproximarmos os alunos do desenho, da criação de personagens nos quadrinhos e como utilizar esse meio desenvolvendo questionamentos, críticas e humor. Pela interpretação dos conteúdos, buscarão compreender o caminho que o artista percorreu em oposição ao governo, as posturas de determinadas classes da sociedade e quais artifícios simbólicos e técnicos usou em seus trabalhos.
E o terceiro artista, Cildo Meireles, que possui trabalhos pictóricos e figurativos de forte apelo crítico diante o período de repressão vivenciado.
Passando pelos anos 80, onde as perspectivas do país, seus sonhos e esperanças estavam depositados no exercício da democracia.
O termo democracia será enfatizado e esclarecido por meio de perguntas, onde serão marcadas algumas diferenças entre a ditadura e atual época, que exigia eleições diretas, espaços para todos os artistas, que a essa altura, pretendiam espalhar arte por toda parte: ruas, prédios, corredores, na expectativa de exaltar um novo país que emergia do negro silêncio da década anterior.
Os artistas brasileiros que surgiram na década de 80, investem na possibilidade de um espaço poético e ao mesmo tempo na busca da conscientização de valores e subversão de idéias através da provocação do olhar.
Em 1984, 123 jovens artistas realizaram uma exposição chamada "Como vai você, Geração 80?", no Parque Lage, zona sul do Rio de Janeiro, estabelecendo uma ação coletiva nunca vista antes na história da arte brasileira, que refletia o prazer da pintura, revelando emoções e o desejo de modificar certos comportamentos e opiniões da época, ainda sob os resquícios da ditadura.
Serão citadas obras de Iberê Camargo, Jorge Guinle e Artur Barrio, com suas diferentes abordagens.
No conteúdo dos anos 2000, o foco será no grupo Imaginário Periférico, traçando relações das décadas anteriormente vistas e de como elas refletem diretamente nas obras produzidas por estes artistas, que participaram de movimentos anteriores. Comentar o processo da arte contemporânea, e de como a nossa sociedade está reagindo ao que acontece com o país relacionando o processo da arte no conteúdo histórico nacional.
(tempo estimado: 60 min.).

2o. Momento
Divisão de 3 grupos que irão fazer uma breve leitura de reportagens jornalísticas, sendo pré-selecionadas pelas licenciandas, onde partirá o início do trabalho.
Será proposto para cada grupo um tipo de produção artística contemporânea expressiva:
Quadrinhos
Instalações com material alternativo
Pintura em tela com texturas diversas
A escolha será feita por sorteio, mas no caso de algum integrante não se identificar com o tema do grupo, poderá trocar de lugar com o colega. Terminada a escolha, prosseguem com fazer o anteprojeto no papel e definição de material. (tempo estimado:40 min.)
3o. Momento

Segunda e última aula, da semana seguinte, os alunos começarão a produzir seus trabalhos, com o auxílio das licenciandas e onde fica programada a finalização da aula. (tempo estimado: 1:40 min.)











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