sexta-feira, 2 de julho de 2010

A respeito da educação contemporânea - Márcia Tomobe

Rio de Janeiro, 01 de Julho de 2010


Hoje, mais do que em qualquer outra fase da minha vida, chego a uma conclusão caótica: a educação está em fase de deterioração.
Não que eu deixe de praticá-la ou orientar meus alunos de forma a questionarem ou simplesmente tornarem-se passivos as mesmas orientações, mas o que eu lembro enquanto EDUCAÇÃO, no sentido literal da palavra, é um conjunto de raízes múltiplas que se ordenam ou não com o tempo, com as vivências, sucessos ou frustrações que recebemos no decorrer das nossas vidas. A EDUCAÇÃO... é aquela que recebemos em casa, na esquina, com os amigos, na escola, na academia, no estádio ou na praça e sem esse assunto demorado de que se ensina em casa e ponto final, mas respira-se o tempo todo mirando-se em exemplos vivos como nossos pais, amigos, professores, atores e atrizes preferidos. Por que não?
Vejo com maus olhos os filhos que possuem um acesso exagerado as tecnologias que os fazem mais acomodados e omissos de suas responsabilidades (sem generalizar, pois é complexo, cada um é de um jeito), mas o impasse não está somente em casa, pois tenho filhos também e sei que a dificuldade maior não está em lá, nem na escola, nem no futebol ou na T.V. É bem maior... É a falta de motivação por possuírem tanto acesso livre a essas imagens e produtos, a cada desculpa de sargento alegando que o local “X”, onde fulano morreu já existe um “efetivo” constante ou que a propaganda do produto “Y” faz efeito através de imagens, músicas e frases.
Então pensei: quando vamos a um fast-food, o hambúrguer está tão lindo, com cores vibrantes e só falta sair a fumacinha em 3D! Só que na hora de abrir a caixinha vermelha e amarela (propositalmente para induzir o prazer de comer), eis o famigerado todo estranho, torto, com o queijo mais que derretido e a carne sem as marquinhas da grelha...mas... mesmo assim comemos, pois é cheiroso e saboroso, mesmo sabendo que existem altas cargas de colesterol ruim, de carboidratos, de pedaços de carne mais que trituradas, nós comemos!
Eis o mundo radiante e ilusório dos adultos: levamos gato (sem pedigree) por lebre onde o caminho é feito de tijolos amarelos com base nas pedras quentes...
Então chego a uma opinião: como vamos educar se nós produzimos e consumimos um mundo contemporâneo cheio de contradições? Eles vêem um mundo jovem, musical, magro e colorido onde tudo é bom! Nós oferecemos este mundo onde nós mesmos criticamos e continuamos a produzir de geração em geração.
As salas de aula são espaços para o conhecimento e independente de altas tecnologias é saber chegar ao mundo das crianças e adolescentes para depois chamá-los e não é a mesma situação que educar! EDUCAÇÃO é feita em casa, na esquina, com os amigos, pais, atores prediletos e na escola existe um trabalho para ORIENTAÇÃO, EXPOSIÇÃO DE PROBLEMAS, TENTATIVA DE COMPREENSÃO E RESOLUÇÃO DAS MESMAS E ESPAÇO PARA VIVER EXPERIÊNCIAS, pois é tudo o que eles vivem (ainda sem se dar conta ou para os mais sensíveis que compreendem tudo que se dão conta e mais um pouco) e do que ainda vão viver do lado de fora, no bairro, nas metrópoles, no mundo...
A educação depositária morreu e ainda querem permanecer nela, nivelando alunos por demanda, porcentagens, contagens e não por esforço, capacidade, dedicação, dom, ou seja, lá o que for...
Outra coisa absurda é: Professor virou educador... NÃO SOU EDUCADORA, sou
P-R-O-F-E-S-SO-R-A, ou seja, uma pessoa formada para lecionar, ou seja, para orientar, expor problemas e possíveis resoluções, compreendê-los e monitorar um espaço livre para experimentar!
O mais importante de tudo é que cada um possui o seu ritmo, as suas vivências, o seu meio ou completo termo de sentir-se acolhido e compreendido.
Penso que o espaço da escola é este, em primeiro lugar. Não posso afirmar aqui que os professores mais gabaritados ou mais sistemáticos foram os meus melhores e sim os mais sensibilizados em saber de questões mais eticamente críticas, mostrando sua visão do mundo em que vivemos nos levando a realidade a qual temos o dever de nos preparar pelo menos. Sou a favor da pedagogia da minha avó, onde o respeito se impunha através do respeito, das dificuldades econômicas e emocionais, assim como o ser humano é e não como ele quer ser e nunca será. Sem Photoshop, e sim com rasuras a mostra de acabamentos no passo-a-passo.
Professores só conseguirão chegar aos alunos se tentarem visualizar o que eles pensam, gostam ou consomem. Caso contrário, tudo se tornará mais difícil ainda.
É necessário caminhar na frente e continuar estudando, pesquisando, comunicando e interagindo.
Vejo uma constante divergência entre os mundos infantil- adolescente-adulto-adultescente- ser humano- hipócritas- mascarados e uma infinidade de mundos, mas que acabam no mesmo lugar...

Um comentário:

Anônimo disse...

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